quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Orégano: a mais nova arma contra o aquecimento global

Suplementos de orégano adicionados à alimentação do gado ajudam a diminuir a emissão de gás metano na atmosfera





Cientistas procuram meios de diminuir a emissão de metano na pecuária. O orégano pode ser um deles
Cientistas da Universidade da Pensilvânia descobriram que suplementos de orégano na alimentação de bovinos ajudam a reduzir em 40% as emissões de metano em vacas, uma dos conhecidos agravantes do aquecimento global. De quebra, o orégano também aumenta a produção de leite.

O metano é um dos gases responsáveis pelo efeito estufa, uma das causas do aquecimento global – ele ajuda a reter na atmosfera parte da radiação solar refletida pela superfície da Terra e absorvida pelos e dióxido de carbono, e com isso as temperaturas aumentam. Comparado com outro gás-vilão, o dióxido de carbono, o metano tem 23 vezes mais potencial de criar o aquecimento global. E um dos maiores emissores do gás são os animais ruminantes, como bovinos, ovinos, caprinos e cervos – a pecuária responde por 16% das emissões totais de metano no planeta.
O gás é produzido naturalmente pelos animais em um dos quatro estômagos do complexo sistema digestivo. Quando a vaca digere seu alimento, bactérias presentes no rúmen – o maior dos estômagos – fermentam o material para liberar seus nutrientes, e um dos subprodutos é o metano. Quanto mais fibra presente na dieta, maior a emissão de metano.
Mas o orégano, em forma de suplemento adicionado à ração, inibe as bactérias metanogênicas, o que reduz a produção de metano. “Ele aparentemente também inibe outras espécies de bactéria, mas isso não afeta a fermentação global no rumem”, disse Alexander Hristov, autor do estudo.
As oito vacas do experimento produziram um litro e meio a mais de leite do que as que não tomaram o suplemento de orégano. Hristov acredita que isto esteja atrelado ao fato das vacas deixarem de perder de energia com o gás metano, que são cerca de 7% da energia bruta do alimento. Desta forma, elas podem usar a energia que seria usada na transformação do metano para a síntese do leite.
O professor vai continuar seu estudo. Ele pretende fazer testes em outras oito vacas. “O orégano é muito caro para servir de alimento para o gado, vamos estudar os componentes do orégano para que possamos criar um suplemento sintético”.

Hristov disse que alguns compostos presentes no orégano, como carvacrol, geraniol e timol, parecem desempenhar um papel mais importante na supressão de metano. Identificar os compostos ativos é importante porque compostos puros são mais fáceis de produzir comercialmente e mais econômica para os agricultores a usar.
Entre 1968 e 1972, registros mundiais mostram que a temperatura da superfície do mar no Hemisfério Norte recuou 0,3 graus Celsius rapidamente. Isto ocorreu principalmente no Atlântico Norte.
Os cientistas costumavam pensar que esse episódio tinha sido apenas um efeito colateral do lento acúmulo de poluição atmosférica proveniente de carros e usinas de energia, que bloqueou a luz solar.
Agora, pesquisadores descobriram que o aquecimento global foi interrompido em 1970, quando uma onda de frio no norte dos oceanos fez com que as temperaturas mundiais diminuíssem temporariamente.
Cientistas americanos e britânicos examinaram os registros de temperatura de 1968 a 1972 e disseram que a queda brusca de temperatura em 1970 ocorreu ao mesmo tempo que um súbito afluxo de água gelada do Ártico.
Este fluxo de água fresca no Atlântico Norte é conhecido como “grande anomalia de salinidade”, e os cientistas acreditam que o frio nestes oceanos levou a uma diminuição das temperaturas mundiais, resultando em uma pausa momentânea do aquecimento global.
Os pesquisadores constataram a queda de temperatura após eliminar outros fatores que poderiam ter bloqueado a luz solar, tais como cinzas vulcânicas e correntes dos oceanos.
Os resultados da pesquisa são nitidamente contrários a todas as previsões anteriores sobre a diminuição da temperatura nesse período, porque o novo estudo nota que este “impulso” de temperaturas mais baixas pareceu ocorrer devido a variações naturais, ao invés de atividade humana.
Segundo os pesquisadores, a “grande anomalia de salinidade” não tem qualquer relação com o aquecimento global ou o efeito estufa causado pelos seres humanos.
Em contraste, o painel de cientistas do clima da ONU mencionou que a temperatura média mundial aumentou em 0,7 graus Celsius desde a Revolução Industrial. O gelo do mar é feito de água fresca, e por causa dos combustíveis fósseis que emitem dióxido de carbono e, supostamente, das temperaturas mais altas no mundo desde a Revolução Industrial, o gelo marítimo no Ártico pode ter derretido e desaguado no Atlântico Norte devido à atividade humana.
Os pesquisadores que afirmaram que as causas dessa baixa de temperatura foram naturais foram acusados de exagerar evidências que apóiam o aquecimento global. Após uma revisão do estudo, as denúncias foram apuradas e a pesquisa foi liberada. Os cientistas disseram que, na verdade, esse estudo destaca as causas do resfriamento global, e não do aquecimento.
Modelos climáticos
Simulações climáticas mostram que o aquecimento ocorrido de 1910 até 1945 podem ser explicado somente por forças internas e naturais (variação da radiação solar) mas o aquecimento ocorrido de 1976 a 2000 necessita da emissão de gases antropogênicos causadores do efeito estufa para ser explicado. A maioria da comunidade científica está actualmente convencida de que uma proporção significativa do aquecimento global observado é causado pela emissão de gases causadores do efeito estufa emitidos pela actividade humana.
Esta conclusão depende da exactidão dos modelos usados e da estimativa correcta dos factores externos. A maioria dos cientistas concorda que importantes características climáticas estejam sendo incorrectamente incorporadas nos modelos climáticos, mas eles também pensam que modelos melhores não mudariam a conclusão.
Os críticos dizem que há falhas nos modelos e que factores externos não levados em consideração poderiam alterar as conclusões acima. Os críticos dizem que simulações climáticas são incapazes de modelar os efeitos resfriadores das partículas, ajustar a retroalimentação do vapor de água e levar em conta o papel das nuvens. Críticos também mostram que o Sol pode ter uma maior cota de responsabilidade no aquecimento global actualmente observado do que o aceite pela maioria da comunidade científica. Alguns efeitos solares indirectos podem ser muito importantes e não são levados em conta pelos modelos. Assim, a parte do aquecimento global causado pela acção humana poderia ser menor do que se pensa actualmente.
Painel Intergovernamental sobre as Mudanças do Clima (IPCC)
Como este é um tema de grande importância, os govenos precisam de previsões de tendências futuras das mudanças globais de forma que possam tomar decisões políticas que evitem impactos indesejáveis. O aquecimento global está sendo estudado pelo Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC). O último relatório do IPCC faz algumas previsões a respeito das mudanças climáticas. Tais previsões são a base para os actuais debates políticos e científicos.
As previsões do IPCC baseiam-se nos mesmos modelos utilizados para estabelecer a importância de diferentes factores no aquecimento global. Tais modelos alimentam-se dos dados sobre emissões antropogênicas dos gases causadores de efeito estufa e de aerosóis, gerados a partir de 35 cenários distintos, que variam entre pessimistas e optimistas. As previsões do aquecimento global dependem do tipo de cenário levado em consideração, nenhum dos quais leva em consideração qualquer medida para evitar o aquecimento global.
O último relatório do IPCC projecta um aumento médio de temperatura superficial do planeta entre 1,4 e 5,8º C entre 1990 a 2100. O nível do mar deve subir de 0,1 a 0,9 metros nesse mesmo período.
Apesar das previsões do IPCC serem consideradas as melhores disponíveis, elas são o centro de uma grande controvérsia científica. O IPCC admite a necessidade do desenvolvimento de melhores modelos analíticos e compreensão científica dos fenômenos climáticos, assim como a existência de incertezas no campo. Críticos apontam para o facto de que os dados disponíveis não são suficientes para determinar a importância real dos gases causadores do efeito estufa nas mudanças climáticas. A sensibilidade do clima aos gases estufa estaria sendo sobrestimada enquanto fatores externos subestimados.
Por outro lado, o IPCC não atribui qualquer probabilidade aos cenários em que suas previsões são baseadas. Segundo os críticos isso leva a distorções dos resultados finais, pois os cenários que predizem maiores impactos seriam menos passíveis de concretização por contradizerem as bases do racionalismo económico.
Convenção-Quadro Sobre Mudanças Climáticas e o Protocolo de Kioto
Mesmo havendo dúvidas sobre sua importância e causas, o aquecimento global é percebido pelo grande público e por diversos líderes políticos como uma ameaça potencial. Por se tratar de um cenário semelhante ao da tragédia dos comuns, apenas acordos internacionais seriam capazes de propôr uma política de redução nas emissões de gases estufa que, de outra forma, os países evitariam implementar de forma unilateral. Do Protocolo de Kioto a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas foram ratificadas por todos os países industrializados que concordaram em reduzir suas emissões abaixo do nível registrado em 1990. Ficou acertado que os países em desenvolvimento ficariam isentos do acordo. Contudo, President Bush, presidente dos os Estados Unidos — país responsável por cerca de um terço das emissões mundiais, decidiu manter o seu país fora do acordo. Essa decisão provocou uma acalorada controvérsia ao redor do mundo, com profundas ramificações políticas e ideológicas.
Para avaliar a eficácia do Protocolo de Kioto, é necessário comparar o aquecimento global com e sem o acordo. Diversos autores independentes concordam que o impacto do protocolo no fenômeno é pequeno (uma redução de 0,15 num aquecimento de 2ºC em 2100). Mesmo alguns defensores de Kioto concordam que seu impacto é reduzido, mas o vêem como um primeiro passo com mais significado político que prático, para futuras reduções. No momento, é necessária uma analise feita pelo IPCC para resolver essa questão.
O Protocolo de Kioto também pode ser avaliado comparando-se ganhos e custos. Diferentes análises econômicas mostram que o Protocolo de Kioto pode ser mais dispendioso do que o aquecimento global que procura evitar. Contudo, os defensores da proposta argumentam que enquanto os cortes iniciais dos gases estufa têm pouco impacto, eles criam um precedente para cortes maiores no futuro.

O Desmatamento Ilegal da Amazônia

A Amazônia, que antes era um terreno florestal que abrigava inúmeras espécies de animais, aves e índios; transformou-se em uma área destinada à agropecuária, produção de grãos e centro urbano. Estima-se que, se nenhuma providência for tomada, em 40 anos a Amazônia estará totalmente desmatada.

Muitas pessoas já foram vítimas de grande violência por tentarem defender a terra, os índios Manokis, por exemplo, foram expulsos do seu território e outros 170 povos que ali residiam. Tudo começou em 1970, quando a ditadura militar decidiu ocupar o território para não correr o risco de perdê-la. Milhares de pessoas, de todos os lugares do país, chegavam para trabalhar nas terras, mas a maioria morria ou voltava para a terra natal por falta de recursos. Os que conseguiram permanecer nas terras fizeram queimadas para cultivar seu alimento.

Havia e ainda há vários fazendeiros e especuladores interesados em apropriar-se de um pedaço de terra da Amazônia e isso, além de desmatar o que formalmente deveria ser preservado, provoca várias mortes, pois a busca incansável por terras os leva a cometer crimes ambientais e contra a vida humana.

Algumas empresas renomadas também participam da destruição da Amazônia, pois ao comprarem matéria-prima ou qualquer tipo de material ilegal contribuem para que essa ação seja continuada e o ambiente altamente prejudicado. Sem falar que a floresta ameniza o aquecimento global, retendo e absorvendo o dióxido de carbono, limpa a atmosfera, traz circulações de águas, entre outros benefícios que estão sendo inibidos por pessoas sem escrúpulos.
É necessario que medidas rígidas e severas sejam tomadas para o bem da nação e da vida humana, que necessita da Amazônia para amenizar o estrago feito pelo homem.

sábado, 10 de abril de 2010

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Aquecimento Global

Até cerca de cinqüenta anos atrás, havia uma crença, mais ou menos generalizada, rubricada pelo empirismo lógico, corrente epistemológica hegemônica na época, que a arena apropriada para avaliar a veracidade das teorias científicas nas ciências naturais era delimitada pelo chamado contexto da justificação. Vale dizer que tanto os critérios de verificação (Hempel) como os de falsificabilidade (Popper) envolviam operações essencialmente internas ao sistema da ciência.

Nesta ótica, a validação das teorias era um processo que não poderia sofrer nenhuma injunção social, política, econômica ou de qualquer outra natureza, fatores estes que se consideravam completamente irrelevantes na retificação ou ratificação dessas teorias. Estes e demais fatores pertenciam à jurisdição do contexto da descoberta, externo ao julgamento epistemológico das teorias científicas.

Essa situação se modificou após a aparição do texto de Kuhn no início da década de 60 e, mais tarde, com a evolução das disciplinas ligadas ao campo denominado de "Estudos Sociais da Ciência". Atualmente fala-se (ou se recusa a falar) na "guerra das ciências" , entre os "realistas" que ainda acreditam na objetividade e independência dos fenômenos estudados pelas ciências naturais e os "construtivistas" que acreditam na "construção" desses fenômenos, isto é, a noção que o conhecimento científico é uma criação humana realizada com os recursos materiais e culturais, e não a revelação de uma ordem natural e independente da ação humana. Entre estes dois limites se situam vários contextos epistemológicos, entre as quais o da Sociologia do Conhecimento Científico.

De qualquer modo, mesmo sem entrarmos nesta "guerra", pode-se observar que quando as observações, experimentos e teorias não são suficientes, ou são contraditórios, abre-se um vazio ou um espaço que é preenchido por fatores extra científicos para colocar um fechamento nos debates.

Isto significa que quando existe um dissenso ou incerteza entre os próprios cientistas num determinado setor, o espaço aberto pela subdeterminação das teorias propostas abre um campo fértil para a intromissão de fatores externos sejam eles políticos, econômicos, sociais ou mesmo éticos. Isto se torna tanto mais evidente quanto maior é o alcance e impacto econômico, social e político do campo de fenômenos estudados. A pergunta que importa fazer é então: "Como se tomam decisões que devem supostamente ser baseadas em conhecimento científico antes que haja um consenso científico?"

Ora, o exame de um fenômeno climático de alcance planetário e de enorme importância para as gerações futuras pode ilustrar o que foi dito acima.Trata-se do aquecimento global do planeta causado por um aumento dos gases chamados "de estufa", principalmente o C02, que bloqueiam a irradiação do calor de volta, da Terra, para o espaço. O aquecimento global é um fenômeno natural, mas cuja cota de exacerbação antropogênica (emissões de gases produtos de combustíveis fósseis, principalmente carvão e derivados de petróleo, de indústrias, refinarias, motores etc.) tem sido amplamente discutida. A previsibilidade e o grau do aquecimento global, inclusive as suas conseqüências, envolvem questões complexas sobre as quais os próprios especialistas ainda não formaram um consenso. Esta complexidade imbrica questões de ordem científica (previsões de mudanças climáticas), econômica (custos dos prejuízos e custos da prevenção destas mudanças) políticas (pressões de lobies interessados e conseqüências eleitorais das medidas econômicas propostas), éticas (deve a geração atual pagar a conta do aquecimento global para evitar suas conseqüências desastrosas para as gerações futuras?). Para analisar a problemática do aquecimento global realizaram-se várias conferências internacionais e um acordo foi proposto em 1997, o Protocolo de Quioto.

Em termos objetivos as projeções obtidas por modelos simulados pelos especialistas em comutadores prevêem um aumento de temperatura média no planeta entre 1.40° C e 5.8° C no final do século XXI. As conseqüências desastrosas deste aquecimento incluem, em geral, um clima mais quente e mais úmido com mais enchentes em algumas áreas e secas crônicas em outras. O aquecimento dos mares provocará um aumento do nível dos oceanos e conseqüente inundação de certas áreas litorâneas e a desaparição de certas geleiras. A umidade e o calor provocarão um aumento do número de insetos com o correlato aumento de algumas doenças por eles transmitidas, como a malária. É prevista uma redução das colheitas na maior parte das regiões tropicais e subtropicais onde a comida já é escassa. Como se isto não bastasse, haveria um decréscimo da água disponível e, por outro lado, maior risco de enchentes em determinados locais. Como resultado, as partes mais pobres do globo serão as mais vulneráveis pela sua escassa capacidade de Adaptação. Estas pelo menos são algumas das conclusões do Terceiro Relatório do IPCC.

O Protocolo de Quioto (1997) estipula que as emissões de poluentes causadores de aquecimento global deverão começar a ser reduzidas entre 2002 e 2012 em média 5.2% em relação aos níveis de 1990. Isto equivale a uma redução de 42% no nível atual de emissões. Foi também aprovado o chamado Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, MDL, através do qual os países que precisam reduzir suas emissões podem comprar direitos dos países que têm créditos porque não emitiram o que teriam direito. Para entrar em vigor o protocolo precisa adquirir força legal, e para isto, precisa ser ratificado por pelo menos 55 países. É, porém, exigido que nesse grupo, estejam aquelas nações responsáveis por, no mínimo, 55% das emissões de gases. Como os Estados Unidos são responsáveis por cerca de mais de 30% das emissões, a sua omissão em ratificá-lo pode acarretar um bom atraso, uma vez que dos restantes 70% das emissões, países responsáveis por 55% precisariam ratificá-lo, isto é, praticamente a totalidade. Em verdade, praticamente, os Estados Unidos pouco precisam para dispor do poder de veto nesse protocolo.

A problemática do aquecimento global "aquece" também vivas polêmicas em torno de seus prováveis efeitos. Um pesquisador dinamarquês, Lomborg, escreveu uma obra com mais de mil páginas e milhares de notas em que faz uma análise dos dados ambientais. Suas conclusões contrariam as previsões usualmente mais pessimistas de seus colegas, inclusive do IPCC. O livro de Lomborg causou uma enxurrada de críticas, algumas dirigidas à sua própria competência. A polêmica no âmbito da pesquisa científica envolve também enorme interesse econômico (o Instituto Americano de Petróleo avalia o custo de cortar as emissões de gases de acordo com o Protocolo de Quioto entre 200 a 300 bilhões de dólares por ano), e conseqüente intervenção de potentes lobis econômicos ligados às indústrias poluidoras. O custo do corte das emissões, de outro lado, aumentaria o preço de determinados produtos e certamente influenciaria negativamente boa parte do eleitorado norte-americano. Em verdade as equações custo-benefício da aprovação do Protocolo de Quioto variam de país a país, mas é inevitável que a carga maior deve cair sobre o país que mais polui que são os Estados Unidos.

Voltamos aqui ao ponto inicial deste pequeno texto, isto é que o tempo da decisão política é muitas vezes mais escasso que o tempo da decisão científica a partir do consenso. No caso da problemática do aquecimento global isto ficou óbvio na decisão do presidente Bush, o ano passado, de não ratificar o protocolo de Quioto, e após 11 meses, propor um plano alternativo.

Malgrado a evidência científica a favor de providências imediatas para reduzir a emissão de poluentes tenha sido convincente para a maioria dos pesquisadores, algumas vozes influentes exprimiram o ponto de vista contrário. É possível que pesquisas futuras, com simulações climáticas feitas por computadores mais poderosos e a obtenção de dados mais precisos, possam contribuir para o "fechamento" da questão no registro científico. De algum modo, parece que o "tempo" científico desta questão ainda não maturou suficientemente.

Mas o "tempo" político do Presidente Bush e seus partidários "fecha" nas próximas eleições presidenciais onde os lobis financiando a campanha, e o eleitor norte-americano votando, decidem para quem vai o poder.

Aproveitando-se de uma possível indeterminação científica na problemática do aquecimento global e premido por circunstâncias econômicas e políticas o presidente da mais potente nação do planeta toma uma decisão que poderá favorecer a economia de seu país em curto prazo mas que, possivelmente, irá causar enorme prejuízo e sofrimento, em escala planetária, às futuras gerações.

Como o aquecimento global vai afetar o Brasil ( ja esta afetando)


E que medidas o país precisa adotar agora para amenizar os impactos negativos das mudanças climáticas


As mudanças climáticas já se impõem como um dos principais desafios para o Brasil no século XXI. O recente consenso científico sobre o impacto do aquecimento global aponta obstáculos que o país tem de começar a enfrentar desde já. Caso contrário, as conseqüências podem ser devastadoras. Uma boa comparação é o estado febril em uma pessoa. Um aumento de 2 graus Celsius provoca várias perturbações no funcionamento do organismo humano. Os batimentos cardíacos ficam mais lentos e a transpiração aumenta. Se a elevação for de 5 graus, torna-se grave. Com uma febre de 42 graus, como na malária, a pessoa sofre convulsões. Pode até morrer. Com o planeta, acontece algo semelhante. Segundo os cientistas, se a temperatura sobe 2 graus, sistemas de chuvas e secas já se alteram, mas as formas de vida que conhecemos ainda conseguem se adaptar. Com uma elevação de 5 graus, o clima da Terra entra em colapso. Isso exterminaria a agricultura e a pecuária em boa parte das zonas tropicais, inundaria cidades litorâneas e tornaria freqüentes os furacões em quase todos os oceanos, inclusive o nosso Atlântico Sul.

SOB AS ONDAS
Simulação de como ficaria a zona sul do Rio de Janeiro se o nível do mar
subisse 12 metros. Pesquisadores dizem que isso poderia ocorrer, no fim
do século, com o derretimento da Groenlândia e de parte da Antártida

Esse cenário preocupante é resultado de uma alteração na atmosfera da Terra. Um conjunto de gases - principalmente o carbônico - regula a quantidade de calor do Sol absorvida pela Terra. A queima de combustíveis fósseis e das florestas vem lançando quantidades inéditas desses gases na atmosfera. Hoje, sua concentração é duas vezes maior que s a dos últimos 650 mil anos. Nesse intervalo de tempo, a Terra atravessou meia dúzia de eras glaciais e esquentou entre elas. Mas o calor que virá agora pode ser maior que o de qualquer desses períodos. O aquecimento já começou. Em 1905, quando a atividade industrial era menor, a temperatura média do planeta era de 13,78 graus Celsius. Hoje, está em torno de 14,50 graus. Até o fim do século, vai crescer para algo entre 16,50 e 19 graus - numa estimativa conservadora.

O prognóstico oficial sobre as conseqüências práticas de um mundo mais quente será divulgado na semana que vem por um painel de cientistas, o IPCC. Coordenado pela Organização das Nações Unidas (ONU), ele concentra uma elite de 2.500 dos principais pesquisadores de mudanças climáticas. Esse comitê, formado em 1988, atualiza as informações sobre o clima e suas conseqüências. Ele avalia milhares de estudos e deles extrai o que há de consenso científico. No início de fevereiro, o IPCC divulgou as previsões sobre aumento de temperatura da Terra. Na semana que vem, um grupo de pesquisadores representantes dos 130 países que integram o painel, reunidos em Bruxelas, na Bélgica, vai descrever como essas mudanças climáticas afetam cada país.

O Brasil deverá sofrer bastante. Estudos realizados por pesquisadores nos últimos meses já revelam o que pode acontecer com nosso país. ÉPOCA ouviu 12 dos principais cientistas que descrevem os impactos sobre nossa geração e a de nossos filhos. Não são previsões infalíveis. Se há praticamente consenso sobre a gravidade do aquecimento global, os cientistas divergem ao especular sobre seus impactos (leia a reportagem à página 72). Apesar do grau de incerteza, essas pesquisas vão nortear as adaptações necessárias para sobrevivermos nesse novo mundo. A seguir, apresentamos as principais ameaças ao Brasil e um levantamento inédito do que deve ser feito para reduzir seu impacto.

NA ROTA DOS FURACÕES

A primeira cena que vem à cabeça quando que se fala em aquecimento global são cidades submersas pela elevação do nível do mar. A imagem da zona sul do Rio de Janeiro alagada é uma possibilidade, mas, se isso ocorrer, dificilmente será antes de 2100. O futuro das casas litorâneas depende do comportamento imprevisível das grandes geleiras da Groenlândia e da parte ocidental da Antártida. Algumas pesquisas mostram que as fraturas na capa de gelo podem provocar um desmoronamento em larga escala, com centenas de quilômetros de extensão, numa questão de meses, a qualquer momento. Se isso acontecer, o nível do mar poderá subir até 12 metros. A melhor comparação é o que houve 125 mil anos atrás, antes da última era glacial. A temperatura da Terra estava em um nível equivalente ao que pode ser atingido no fim deste século. Naquele tempo, a redução dos gelos polares fez o mar subir até 6 metros. Isso bastaria para que as ondas chegassem ao 2o andar de prédios no litoral.

As previsões mais moderadas para o país sugerem a elevação de 58 centímetros no nível do mar. Isso já poderia provocar ressacas mais intensas. "Nesse caso, o mar fica com ondas de 3 metros em cima de uma elevação de até 1,5 metro", afirma Claudio Freitas Neves, pesquisador do Instituto de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe) da UFRJ. "Apesar de o mar retroceder depois de algumas semanas, o estrago seria grande", diz Neves. Essas ressacas podem aumentar a erosão em uma grande faixa litorânea do país, acabando com boa parte das praias. Um estudo do Inpe alertou sobre a possibilidade de esse processo causar prejuízos a 42 milhões de pessoas que vivem na costa. Os pesquisadores também chamam a atenção para a possibilidade de ocorrência de ciclones e furacões no Sul e Sudeste, como o furacão Catarina, que assolou o Sul do país em 2004. Esses eventos podem chegar ao litoral de São Paulo e ao do Rio de Janeiro.

O QUE FAZER
Para lidar com isso, o Brasil vai ter de comprar ou desenvolver sistemas de alerta contra furacões, como os usados pelos Estados Unidos e pelo Japão. É uma forma de retirar a população quando a tempestade se aproxima e reduzir, pelo menos, as mortes. Também será preciso investir em estudos sobre o litoral. Um dos principais obstáculos das projeções sobre elevação do nível do mar é a falta de um mapa cartográfico da costa brasileira. "Não sabemos aonde o mar vai chegar, pois não temos dados precisos da topografia de nossas praias", diz Neves. O pesquisador afirma que a grande maioria de cidades e portos brasileiros - como o de Santos e o do Rio - não tem marcações no chão, chamados de marcos topográficos, para assinalar as elevações no solo. "Sem esses números, é impossível pesquisar", diz Freitas.

MEIA FLORESTA AMAZÔNICA

O desaparecimento completo da floresta está entre as previsões mais pessimistas. Isso pode acontecer se a temperatura média da região aumentar mais de 5 graus. E essa elevação pode chegar a 8 graus. "Seria um caminho sem retorno", diz Carlos Nobre, climatologista do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). A previsão mais aceita para a região é um aumento de temperatura de cerca de 3 graus até 2100. Nobre afirma que, nessa simulação, a floresta perderia mais da metade de sua cobertura original. "Pode acontecer uma união entre a grande savana da Venezuela e a parte central do Brasil", diz. Seria um campo com algumas árvores, mas dominado por arbustos e capim, bem menos imponente que a floresta atual.

ALAGAMENTO
Motoristas em um túnel alagado em São
Paulo. Esta cena pode se tornar mais
comum, com o aumento de temporais
no Sudeste

Um estudo realizado em dez anos pelo Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) encontrou algumas pistas sobre como a floresta desapareceria. Segundo o biólogo Daniel Nepstad, coordenador do estudo, a temperatura elevada aumenta os períodos de estiagem. A queda na umidade natural da floresta acaba com o vapor de água da transpiração das plantas, que protege as árvores das queimadas. A vegetação fica mais exposta ao fogo. Como o fogo agrava a seca, cria-se um ciclo de destruição. O baixo nível dos cursos da água pode deixar grande parte da população local com problemas de transporte e alimentação. O desaparecimento de metade da Floresta Amazônica também pode reduzir em até 35% a umidade nas regiões Sul e Sudeste do país, afetando os ciclos de chuvas.

O QUE FAZER
Salvar a floresta depende de algumas ações preventivas. A primeira delas é a criação de mais unidades de conservação, como reservas e parques ecológicos, para conter o fluxo devastador. As pesquisas do Ipam concluíram que a porção mais importante a ser preservada é o sudeste da floresta, entre os Estados do Pará e do Maranhão. "Essa região é fundamental para garantir a umidade, responsável pelas chuvas em toda a Região Norte", afirma Nepstad. Uma segunda ação seria o reflorestamento, com espécies nativas, das áreas já degradadas. "É uma forma de criar um mecanismo para capturar carbono e ao mesmo tempo restabelecer a umidade na região", diz ele. Essas árvores também podem ser utilizadas pela indústria de celulose e nas siderúrgicas. O reflorestamento poder ser intercalado com sistemas de exploração da madeira nativa, a partir de práticas não-predatórias. Mas a ação mais importante é a criação de programas para acabar com a utilização do fogo para limpar o solo. São essas queimadas que saem do controle e carbonizam florestas já fragilizadas. "Sem o combate ao uso do fogo, não há como conservar a Amazônia", diz Nepstad.